Wednesday, June 09, 2010

O ensino dos valores humanos é em geral considerado uma incumbência da religião ou da família. A espiritualidade e a vida comtemplativa são reduzidas, assim, a meros complementos vitamínicos da alma. Os conhecimentos filosóficos que adquirimos são quase sempre distantes da nossa prática, e cabe ao indivíduo escolher suas próprias regras de vida. Mas em nossa época, a pseudoliberdade de fazer tudo o que passa pela cabeça e a falta de referências deixam o indivíduo infeliz desamparado. As considerações abstratas em geral incompreensíveis da filosofia contemporânea somadas ao ritmo febril da vida cotidiana e à supremacia da diversão e do entretenimento deixam pouco lugar para a busca de uma fonte de inspiração autêntica quanto à direção que podemos dar à nossa vida.
É necessário reconhecer que oferecemos uma resistência fenomenal à mudança. Não falamos apenas da alegria e do vigor com que a nossa sociedade adota como tendência as novidades superficiais, mas de uma inércia profunda no que tange a qualquer transformação genuína do nosso modo de ser. A maior parte do tempo não queremos nem ouvir da possibilidade de mudar e preferimos tratar com escárnio aqueles que buscam soluções alternativas. Ninguém quer ser raivoso, ciumento ou orgulhoso, mas a cada vez que cedemos a essas emoções, usamos a desculpa que isso é normal, faz parte dos altos e baixos da vida.
Então, por que mudar? Seja você mesmo! Divirta-se bastante, compre um carro novo, mude de ares, consiga uma nova amante, tenha tudo, farte-se de tudo que é supérfluo, mas, acima de tudo, jamais toque no essencial, porque isso exige um trabalho duro, um esforço verdadeiro. Uma atitude como essa seria justificada se estivéssemos satisfeitos com o nosso destino. Mas estamos mesmos? Citando Alain mais uma vez: "Os insanos são mestres no proselitismo e, principalmente, relutam em curar-se."

Matthieu Ricard em "Felicidade: a prática do bem-estar".














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